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Brasil paga menos que emergente em emissão externa

Com a melhora da percepção de risco Brasil, os investidores globais de dívida estão aceitando prêmios cada vez menores nas negociações de ativos locais no exterior. Isso acabou reduzindo o custo de captação das companhias brasileiras no mercado internacional para os níveis de 2014, quando o país ainda mantinha o selo de bom pagador. Apesar do ambiente externo favorável, contudo, as empresas devem continuar priorizando o mercado local para financiar suas operações.
Isso é resultado da combinação entre o avanço da agenda de reformas no Brasil e os planos de injeção de novos estímulos às economias via corte de juros pelos bancos centrais ao redor do mundo, o que tornou o ambiente internacional bastante propício para emissores de dívida de mercados emergentes.

Levantamento feito com base em dados do ICE Data Services mostra que não só o custo de captação ficou menor para o Brasil no exterior, como está abaixo da média dos países emergentes. Na semana passada, as emissões brasileiras estavam pagando, em média, 246 pontos-base acima dos títulos do governo americano (Treasuries, usados como referência para calcular o retorno total desses papéis) – menor prêmio desde o início do levantamento, em 2010, e próximo dos níveis de janeiro de 2018, cuja mínima foi de 247 pontos, no dia 26.

Os dados mostram um cenário ainda mais interessante quando é feita a comparação com os mercados emergentes, que pagava um prêmio de risco equivalente a 257 pontos-base na semana passada, 11 pontos acima do Brasil. A última vez que a diferença a favor do emissor brasileiro chegou a esse nível foi em outubro de 2014.

Desde então, no pior dos momentos, no início de 2016, o emissor brasileiro chegou a pagar um spread acima dos 1.000 pontos-base, resultado da perda do grau de investimento do país pela S&P, em setembro de 2015. Na ocasião, o prêmio pago pelos mercados emergentes estava na casa dos 500 pontos.

O custo de swap de default de crédito (CDS, na sigla em inglês) de cinco anos do Brasil, uma medida do risco de calote do país, mostra cenário semelhante. O contrato está atualmente em 128 pontos-base e tem renovado as mínimas também desde 2014.

A primeira mudança ocorreu no mercado internacional, conta Rafael Garcia Lima, executivo da área de mercado de dívida do BofA Merrill Lynch. Com a expectativa de uma nova rodada de estímulos monetários a ser colocada em prática pelos principais bancos centrais do mundo, as taxas das principais referências do mercado, como os Treasuries e os bônus soberanos europeus, caíram significativamente. Essa conjuntura gera pelo menos dois efeitos: reduz o custo de captação das empresas dada a taxa menor dos Treasuries, o que beneficia o mercado como um todo; e estimula o investidor a buscar mais retorno, o que se traduz em fluxo para papéis emergentes.

“Isso fez o investidor buscar mais rentabilidade, aumentar a tolerância a risco, o que trouxe mais dinheiro para os mercados emergentes. Vimos entrada de fluxo substancial para fundos dedicados a mercados emergentes”, explica. Quando a demanda por títulos é grande, cai o spread dos papéis.

No caso das emissões brasileiras, o retorno total, calculado pela soma da taxa dos Treasuries mais um prêmio, caiu para 4,4%, voltando também para os níveis de 2014.

Outro componente importante nessa conta é o volume de emissões de títulos. O executivo do BofA ressalta que hoje a oferta de papéis é menor no exterior, tanto de títulos com grau de investimento dos Estados Unidos como de papéis classificados como “high yield” do Brasil, o que faz com que as taxas fiquem menores diante da demanda pressionada. Na visão de Lima, existe um movimento internacional de redução de alavancagem, por isso as empresas estão levantando menos recursos.

O desenvolvimento do mercado brasileiro de dívida também pressiona a precificação dos papéis no exterior. “Sobretudo no mundo corporativo, estamos vendo uma migração das captações do mercado externo para o local. Os investidores aqui estão com muito apetite por crédito e muitas empresas estão deixando de fazer emissões lá fora. Isso contribui para  a compressão dos preços”, diz Luiz Masagão, diretor de tesouraria do Santander.

Ele conta que hoje o custo para fazer uma emissão no exterior é de 100 a 200 pontos-base maior do que aqui dentro. Por isso, mesmo com a melhora do ambiente internacional, as companhias devem continuar se financiando por aqui. “Quem vai emitir lá fora é quem está buscando prazo. Aqui já vemos operações de dez anos, mas para 30 anos, por exemplo, busca-se o mercado internacional”, diz Masagão.

“Os emissores olham para os dois mercados e o local tem estado mais atrativo do que a emissão em dólar devido ao custo do swap cambial”, explica Alexei Remizov, gerente de mercado de capitais para América Latina do HSBC. Ele espera um total de US$ 20 bilhões em emissões no mercado internacional.

Para se ter ideia da diferença entre os mercados local e internacional, no primeiro semestre, as companhias levantaram R$ 84,6 bilhões via emissão de debêntures no Brasil e US$ 12 bilhões no exterior com a colocação de bônus. Os dados são da Anbima, entidade que representa o mercado de capitais e de investimentos.

Masagão, do Santander, destaca ainda o efeito da agenda local. Segundo ele, tanto o movimento do CDS quanto dos bônus refletem a percepção de melhora da capacidade de pagamento de dívidas do Brasil. “Quando o último downgrade do Brasil aconteceu, as agências de rating colocaram a não aprovação da reforma do ex-presidente Michel Temer como um dos motivos. Os mercados vão na frente dos ratings e hoje precificam uma qualidade de crédito muito melhor.”

A queda de CDS e do spread começou a acelerar no início de julho, diante dos sinais de que a reforma da Previdência seria votada e aprovada, afirma Remizov, do HSBC. “E o jeito como isso aconteceu no primeiro turno foi muito relevante, com forte apoio e sem grande diluição. Isso demonstrou o apoio do Congresso à reforma e os investidores passaram a precificar a aprovação”, diz.

FONTE: VALOR ECONÔMICO
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