Acordo com UE será primeiro teste para valer de abertura

Para o acordo concorreram o trabalho do governo anterior, de Michel Temer, o incentivo da ala econômica liberal do governo Bolsonaro e as circunstâncias – o protecionismo de Trump e a ascensão de lideranças xenófobas em vários países. Politicamente, o acordo Mercosul-UE é um bom antídoto e uma vitória sobre as tendências protecionistas crescentes. Economicamente, para a UE, o acerto tem ganhos superiores ao feito com o Canadá, e, em valores – tarifas que deixará de pagar, de €4 bilhões -, maior que a parceria com o Japão.
Os detalhes finais do acordo permitirão avaliar se houve desequilíbrio nas concessões mútuas. Segundo a Comissão Europeia, a UE liberará ao fim de 10 anos 92% de suas importações do Mercosul, este, 92% das europeias em 15 anos – a maior parte em 10 anos. O Mercosul abrirá 91% das linhas tarifárias e a UE, 95%. Antes do acordo, só 24% das linhas só 24% das linhas tarifárias de exportações do Mercosul eram isentas. Protecionista no setor agrícola, a UE liberou 82% das importações – suco de laranja, frutas, café etc- e o Brasil, 93%. Haverá acesso preferencial via cotas para carnes, açúcar, etanol etc, que se esvairão em uma década.
Para as vendas da indústria do Mercosul, as tarifas deixarão de existir em 10 anos. Nos cálculos do Ministério da Economia, o PIB crescerá US$ 87,5 bilhões, as exportações, US$ 100 bilhões e os investimentos, US$ 113 bilhões em 15 anos.
UE e Brasil vão utilizar as regras da OMC para o uso de medidas contra dumping e subsídios. Afora isso, por até 18 anos, concordaram em criar salvaguardas especiais no caso de “aumentos inesperados ou significativos” de produtos com acesso preferencial decorrentes do acordo. A preferência pode ser suspensa por 2 anos, prorrogável por mais dois. Há ruídos sobre o “princípio de precaução” mantido por insistência da UE, que permite suspensão de importações em caso de suspeita de danos à segurança de alimentos, plantas e animais mesmo diante de evidências científicas inconclusivas.
Se passar pela barreira revigorada eleitoralmente dos verdes em vários países europeus e no Parlamento, o acordo abre novos caminhos para a política comercial brasileira e rompe com histórica letargia. Cabe agora ao governo ser ágil na remoção dos obstáculos que impedem a indústria de ser competitiva, já que a concorrência será muito mais forte do que antes.