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O governo depois de Bebianno

 

G1

Dinâmica revelada pelo caso recomenda ceticismo sobre aprovação da Previdência
 
 
O mais importante na saída iminente de Gustavo Bebianno do ministério é o que ela revela sobre a dinâmica do governo Jair Bolsonaro.
 
Dois princípios foram demonstrados pela crise: o poder dos filhos do presidente e o uso das redes sociais para exercê-lo. Tais princípios continuarão válidos para todas as iniciativas daqui em diante.
 
É ingênuo acreditar que as “alas moderadas” do governo, os generais, os ministros Sérgio Moro ou Paulo Guedes criem uma nova dinâmica de poder. Enquanto o presidente for Bolsonaro, ele será leal àquilo que dá mais valor: sua família e seus eleitorado mais fiel.
 
O preço político que paga por isso é evidente. Tanto na derrota de Renan Calheiros na eleição para a presidência do Senado quanto na queda de Bebianno, Bolsonaro conquistou dois novos inimigos políticos, que tentarão atrapalhá-lo no Congresso.
 
A cada crise, o custo de aprovação da reforma da Previdência sobe. Isso não significa necessariamente que já tenha naufragado, mas que dará mais trabalho. Os aplausos das redes sociais não mudam tal realidade.
 
Guedes dispõe de uma articulação política própria, em torno do ex-deputado Rogério Marinho e de sua proximidade do presidente da Câmara, Rodrigo Maia. Mas o governo ainda não tem estratégia para conduzir seus projetos, que disputam a atenção dos parlamentares.
 
As questões de ordem prática se acumulam sem resposta. Qual é a prioridade? O pacote de segurança pública de Moro? A agenda dos costumes da “nova direita”? Ou a Previdência de Guedes? Com quantos votos cada uma dessas agendas conta no Parlamento? Quem são os líderes abertos a negociação? Que tipo de concessão será preciso fazer para convencê-los?
 
Nada disso se sabe. O próprio texto da reforma da Previdência, que deverá ser encaminhada esta semana, ainda é uma incógnita. Antes mesmo de apresentá-lo, Guedes já fez concessões ao estabelecer idades mínimas diferentes para homens e mulheres e ao deixar de lado imposições a estados e municípios.
 
Concessões nessa fase não garantem votos. Ao contrário, o mais provável é que novas se tornem necessários para aplacar os parlamentares, à medida que o projeto estiver em tramitação.
 
Em tese, não há conflito entre os princípios que regem a ação de Bolsonaro – filhos e redes sociais – e a articulação política no Congresso, ou entre eles e as pautas mais relevantes para o governo. Mas há uma tensão latente.
 
Cada mudança que os representantes legitimamente eleitos impuserem às medidas legislativas é alvo potencial de manobras semelhantes à que Bolsonaro pôs em marcha para derrubar Bebianno. Tudo estará sujeito ao escrutínio dos bolsonaristas do Twitter e à anuência dos filhos.
 
Lobistas experimentados já tentam se aproximar deles para garantir seus interesses. Mas uma característica do movimento que elegeu Bolsonaro impõe outra dinâmica política. A convicção ideológica dos filhos e fieis parece ainda mais sólida que a dos militantes petistas. Ingênuo esperar que abram mão dela em nome de interesses.
 
Foi o que aconteceu tanto no caso de Renan quanto no de Bebianno. Ambos prenunciam novas crises simétricas. De um lado, a ala ideológica, insistindo na pureza dos projetos, para o júbilo e gáudio da tuitosfera. De outro, os pragmáticos, moderados, “adultos no recinto” ou seja lá o termo escolhido para qualificar esse grupo lábil e amorfo, que reúne do vice Hamilton Mourão a Paulo Guedes.
 
Bolsonaro, na hora da dúvida, demonstrou estar com o primeiro grupo. Qualquer iniciativa de seu governo, porém, dependerá do segundo. O potencial para conflitos é inesgotável. A chance de apaziguamento, diminuta, exígua.
 
O mercado financeiro ainda tem fé nas medidas econômicas e acredita na aprovação de uma reforma da Previdência robusta, que transmita um sinal claro de que o Brasil retomou o rumo do crescimento. A esperança é compreensível, diante das sequelas dos anos petistas. A experiência, diante do que já se viu em poucas semanas de governo, recomenda cautela e ceticismo.
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